quinta-feira, 24 de junho de 2010

Psicanalista de pobre

No Programa do Jô desta segunda (21), o jornalista cearense Xico Sá apresentou mais um livro de reflexões humorísticas sobre o comportamento sexual: Chabadabadá - Aventuras e desventuras do macho perdido e da fêmea que se acha. No meio da entrevista, ele comenta: o cachorro é o psicanalista do pobre.

Não se pode desconhecer que o cão recebe as descargas de mau humor do seu dono, seja em forma de pontapés ou de longos e amargos relatos. Ouve pacientemente, dia após dia, sem comentar nem intervir nos relatos, chegando a uma identificação mútua com "o outro" paciente. Pobre ouvinte, diria um observador.

Já que muitos falantes se aliviam pelo falar livremente - sem precisar que o outro entenda - a função catártica fica realizada. Só faltaria a função terapêutica, a verdadeira análise, que custa mais caro (aos ricos). Não esqueçamos que a "terapia pela fala", como ficou batizada a psicanálise em seus começos, não é um simples monólogo.

A piadinha não pertence a Xico Sá, pois Mário Quintana já havia dito algo muito parecido na crônica Para que serve um cachorro?: "Antes de tudo, um cachorro serve para a gente falar sozinho... Que o digam esses vagabundos de estrada, a quem pode faltar tudo, menos um cachorro" (Da preguiça como método de trabalho, p. 228. Globo, 2007).

Freud não foi humorista mas analisou o humor como os humoristas dissecam os defeitos humanos. Conta-se dele que teria usado de fina ironia quando os nazistas lhe fizeram escrever uma declaração de bom trato (leia o relato no blogue de Luiz Zanin).


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