quarta-feira, 21 de julho de 2010

Villa Freud, bairro de consultórios

Existe em Buenos Aires um setor do bairro de Palermo, ao redor da Plaza Güemes, que a partir dos anos 60 sedia muitos consultórios de psicanalistas. Esse espaço urbano ganhou o apelido informal de Villa Freud (na pronúncia local, "bija frôi"), que até já se encontra na Wikipédia (leia).

Como um eco ao nome popular dessa zona de Buenos Aires, existe ali o Café Sigi (ponto de encontro de analistas e de analisandos), a farmácia Villa Freud, a loja de roupas Narciso e o restaurante Freud & Fahler (a primeira dona era psicóloga e o batizou com o nome de seus dois amores; Fahler era seu marido). Outros nomes populares dessa zona são: Palermo Sensible (alusão psicológica), Guadalupe (pelo outro nome da praça Güemes, já chamada também de Plaza Freud) e Alto (pelo shopping Alto Palermo). Mas Villa Freud é o nome mais emblemático, tanto na Argentina como internacionalmente.

Tanto assim, que suscitou um artigo do Wall Street Journal sobre a febre psicologista dos argentinos (leia), e até mesmo um documentário para a TV canadense, em preparação desde 2008 (Villa Freud - a Psychoanalitical Tango), sobre as relações entre o tango e a psicoterapia em Buenos Aires. Veja abaixo, no fim desta nota, um vídeo de antecipação (ou o sítio do filme).

Nos 70 anos da morte de Freud (setembro de 2009), o jornalista argentino Ariel Palacios publicou um extenso artigo no Estadão (leia). Ele diz que certo deputado da capital quis batizar uma quadra da rua Medrano como "Calle Freud", onde está o Café Sigi (cardápio à esquerda, clique para ampliar). Freud, segundo o deputado, é um dos poucos nomes que não suscita antagonismos na Argentina, pelo menos para batizar ruas (costuma haver brigas entre grupos de opiniões contrárias).

A Argentina é o país que tem maior concentração de psicólogos, em todo o mundo (um por 650 habitantes, de acordo com a Wikipédia), superando Estados Unidos e países europeus. Os argentinos do interior tendem a pensar que essa forte concentração é mais típica da neurótica Buenos Aires e não tanto do país.

Segundo o artigo do Wall Street Journal , a OMS registra na Argentina 121 psicólogos por cem mil habitantes em 2005 (no Brasil e nos EUA, eram 31). Em 2008, já eram 145 psicoterapeutas por cem mil argentinos (em Buenos Aires, 789 por cem mil).

Certa pesquisa encontrou, em 2009, que 32% dos argentinos haviam consultado alguma vez um psicólogo (em 2006 eram 26%). É preciso notar que na Argentina não se faz muita diferença entre psicanalista, psicoterapeuta e psicólogo, até porque a psicanálise é a corrente hegemônica.

Muitos argentinos (diríamos, obsessivos) podem estar vários anos em análise, parar e voltar a tratar-se. A jornalista Malele Penchansky, que publicou em 2009 um livro sobre a histeria cotidiana e a histórica (dir.), diz ter estado em sessões psicológicas (com interrupções) por quase 40 anos. Haja libido narcísica.
Imagens da web

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